Olhar, sentir, cheirar e ouvir. Soube tão bem provar o que de maravilhoso Marrocos tem para dar.
Durante seis dias os meus cinco sentidos foram postos, continuamente, à prova. As cores e os sons, o cheiro e as texturas e o tão característico sabor a chá de menta já me fazem sentir saudades daquelas terras berberes. Que o diga também a Joana que me acompanhou nesta aventura.
Marrakech é sinónimo de calor, exotismo, movimento e cultura.
O plano para estes dias estava desenhado há alguns meses: chegar a Marrakech às 22h45, num voo low-cost directamente de Madrid, dormir duas noites na cidade vermelha, partir para o deserto em tour guiado com a duração de três dias e regressar a Marrakech para mais um dia e meio de visitas, com regresso a Lisboa no último voo da TAP. A viagem foi assim dividida em duas partes: os dias em Marrakech e a viagem de três dias em direcção ao Sahara.
Tudo correu como planeado. E tudo superou as expectativas.
Parte I – Os dias em Marrakech
Iala! (vamos!)
Ficámos hospedados num hostel recomendado por amigos – Dream Kasbah Hostel – perto da Rue de la Kasbah. Obviamente que não esperávamos um alojamento de 5 estrelas mas a localização e toda a hospitalidade do Dani e do Smail tornam o local ideal para quem pretende sentir o verdadeiro espírito bairrista de Marrakech. E nós sentimos isso logo no primeiro dia em que pisámos o chão da Rue de la Kasbah transformada num autêntico mercado de rua, manchado de cor e cheiro a produtos frescos. Era aqui que todos os dias começava Marrakech para nós. E agora perguntam vocês: o que visitaram? o que comeram? o que fizeram?
Os locais de interesse em Marrakech convivem perto uns dos outros e rapidamente nos deslocámos entre eles sem necessidade de grande planeamento do circuito.
O que visitámos e recomendamos?
Visitámos praticamente todos os pontos de interesse de Marrakech. A Joana visitou os Jardins Majorelle e eu fiquei à porta. Para quem quiser visitar, prepare-se para 30 minutos de espera à porta e pagar a entrada com dinheiro (não tenhas esperança de pagar com cartão de débito!).
Aqui ficam os pontos principais que não deves deixar de visitar:
1. La Koutoubia
Muito próxima da praça principal de Marrakech – Jemaa el-Fna – e que pela sua altura é um ponto de referência para nos orientarmos na cidade, especialmente quando visitamos algum terraço em muitos dos restaurantes de Marrakech. La Koutoubia apenas pode ser visitada no exterior pois a entrada é apenas permitida a muçulmanos. Vale a pena passear pelos seus jardins. Se passarem por lá ao domingo vão reparar em muitas famílias de marroquinos sentados nos bancos dos jardins à sombra.
A não perder: passear pelos jardins junto à fonte da Koutoubia.

2. Praça Jemaa el-Fna
Nesta praça tudo acontece e por isso mesmo é o centro de toda a cidade. Todas as ruas vão dar à Jemaa el-Fna. É aqui que encontramos, de dia, os encantadores de serpentes, os domadores de macacos, os grupos de danças dos escravos, os vendedores de sumos de fruta (que nós não provámos porque decidimos ter muito cuidado com a comida e bebida de rua), as tatuadoras de henna, carroças de burros (sim, burros!), motorizadas velhas a circular numa estrada que parece inexistente, aos quais se juntam, à noite, os storytellers (homens que contam histórias e que, em seu redor, juntam dezenas de pessoas a ouvi-los), os restaurantes de rua, os animadores de várias artes, barulho, fumos, cheiros e muito movimento. Ao fim-de-semana à noite tudo se torna ainda mais movimentado.
A não perder: subir ao terraço do Café Glacier ao final da tarde para ver as movimentações de pessoas na praça e observar o pôr-do-sol. Convém chegar cedo porque rapidamente o terraço se enche de turistas.

3. Caminhar nos Souks
Os souks são os verdadeiros tentáculos da Praça Jemaa el-Fna. Basta olhar à volta e ver a quase uma dezena de ruas de comércio onde quem entra nem com mapa se orienta. Os souks de Marrakech são um verdadeiro labirinto comercial. Quando entramos pela primeira vez ficamos surpreendidos com a forma como tudo está exposto, com as cores, com os cheiros. Não há forma de escolher por onde andar pois no meio de bancas de frutos secos, temos também pequenas lojas de vestuário, de artesanato e de especiarias. Entrar nos souks é fácil. Sair é mais difícil. A táctica é seguir em frente e desfrutar. Para quem não estiver interessado em fazer compras, não deve dar muita atenção nem aos produtos, nem aos comerciantes. Eles são bastante chatos e a paciência para os aturar muitas vezes esgota-se, pois às vezes um “Não, obrigado!” não chega. Pelo caminho encontrámos também quem nos quisesse guiar de volta à praça ou até a um local específico. Delicadamente rejeitámos. Ou melhor, a Joana rejeitou (perguntem-lhe sobre a sua táctica tão eficaz!). Apesar destes “guias” dizerem que não querem dinheiro, é provável que te peçam no final.
As lojas dos souks fecham todos os dias por volta das 20h30, à excepção do souk principal que une a praça Jemaa el-Fna ao Largo das Especiarias. Se de dia é fácil não nos orientarmos nos souks, à noite e com lojas já encerradas a nossa orientação vira um autêntico desnorte. Além de não ter qualquer interesse circular por ruas com lojas fechadas, não é aconselhável por dificuldade em regressar à praça principal.
A não perder: os pequenos recantos e pátios escondidos nos souks e as ruelas secundárias.
4. Medersa Ben Youssef (Madraça)
Ao atravessar os principais souks chegámos à zona do museu de Marrakech (que decidimos não visitar). Bem perto está localizada a Medersa Ben Youssef, uma antiga escola islâmica que, para além de um bonito pátio central com uma arquitectura impressionante, possui também zonas de dormitórios. É possível circular pelos corredores e espreitar para os vários quartos dos estudantes, hoje completamente vazios e a necessitar de alguma conservação. A entrada na Madraça custa cerca de 2 Euros e está aberta até às 17h00.
A não perder: a fabulosa arquitectura do pátio central e da sala de orações.

5. Museu da Fotografia (Maison de la Photographie de Marrakech)
Um pequeno museu perto da Madraça cuja entrada custa cerca de 4 Euros. Para o encontrar foi uma aventura pois foi necessário fugir a um daqueles transeuntes que, de repente, se transforma em “guia”. Depois de algumas voltas sozinhos e na expectativa de termos despistado o “nosso guia” lá encontrámos o Museu da Fotografia. Desde o momento que entramos no museu que damos por nós a viajar no tempo, a viajar de regresso aos anos 20 e 30 de Marrakech. Algo surpreendente como ver em fotografias que a Praça Jemaa el-Fna praticamente permanece na mesma desde há 100 anos atrás.
A não perder: a vista do terraço do Museu.

6. O largo do Café des Épices (Café das Especiarias)
Um dos largos mais bonitos de Marrakech. Bem no meio do labirinto de souks, quem lá chega é vencedor. Cheira a especiarias, a chá de menta. Um local onde nos sentimos bem. Aqui vende-se desde cestas de vime, a animais exóticos, especiarias de várias cores e até corantes para a comida. Parámos no Café des Épices para tomar um chá no terraço e contemplar o pôr-do-sol. Bem perto, do outro lado do largo, situa-se um óptimo restaurante – Nomad.
A não perder: relaxar ao final do dia no terraço do Café des Épices e beber um chá de menta.
7. Les Bains de Marrakech
Um maravilhoso local para relaxar nos últimos dias de viagem e que fica bem perto da Rue de La Kasbah. Ir a Marrakech e não experimentar um SPA Marroquino é como “ir a Roma e não ver o Papa”.
Tentámos reservar um banho relaxante para duas pessoas através do site do Les Bains de Marrakech, mas a tentativa revelou-se infrutífera. Assim, decidimos à chegada a Marrakech reservar no próprio local. A sorte esteve do nosso lado e conseguimos experimentar 25 minutos de um banho oriental com sais de banho e pétalas de rosa seguido de 1 hora de massagem de mãos relaxante. A experiência fala por si e custou-nos cerca de 65 Euros por pessoa. Pode parecer muito mas a experiência é maravilhosa.
A não perder: O banho oriental com sais de banho e pétalas de rosa com um prévio copinho de chá de menta bem quente.

8. Palácio Bahia
Foi o último ponto turístico que visitámos em Marrakech mas não foi de todo o menos atractivo. O palácio Bahia é um espaço lindo com uma arquitectura extraordinária. O seu pátio central é bastante imponente e as salas incrivelmente decoradas fazem deste local um espaço místico. Ao que parece, o vizir que o construiu vivia lá com dezenas de mulheres, 4 das quais eram suas esposas.
A não perder: Os tectos maravilhosos e detalhadamente esculpidos das salas do palácio.

Onde comemos e recomendamos?
O que não falta em Marrakech são locais para comer. As ruas estão inundadas de cheiro a carne frita e grelhada banhada em especiarias de todos os tipos que pode ser tentador aos narizes de quem passa. No entanto, há que saber escolher o local onde se come. Tentámos experimentar alguns locais que nos tinham sido referenciados, mas não nos foi possível experimentar todos.
1. Restaurante Nomad
Bem perto do Largo do Café des Épices, o restaurante Nomad é uma espécie de oásis de comida para quem gosta de um bom restaurante. Não reservámos mesa e por isso ficámos na zona interior, mas aconselhamos a reservar previamente para quem pretender jantar no terraço. A vista é soberba.
Os pratos principais rondam os 10-12 Euros.
2. Banca da Chez Aicha
Bastante fácil de encontrar. A Aicha está todas as noites na Praça Jemaa el-Fna ao gritos com os seus empregados que servem à mesa. A banca da Aicha é a banca nº1, pelo que não é preciso procurar exaustivamente. Apesar de todos os cuidados que necessitamos de ter com a comida de rua, arriscámos sentir as vibrações de uma refeição em plena Praça Jemaa el-Fna. A experiência é marcante e não custa nada pagar 5 Euros por um Kebab com pão e uma garrafa de água.

Onde comprámos e recomendamos?
Marrakech vive hoje mais a fama do preço regateado do que o proveito. Os tempos mudam e já existem muitos locais onde os preços são fixos. Mas a realidade dos souks é outra. Se tens paciência para aturar um vendedores chatos a querer vender-te até o que não te interessa, então estarás no local certo para fazeres as tuas compras. De rua para rua o que muda é o vendedor e o aspecto da loja, pois o cenário é sempre o mesmo.
Em Marrakech, bem perto da Praça Jemaa el-Fna, na Avenida Mohammed V, existe um espaço mais discreto, menos turístico, onde os produtos que existem nos souks são vendidos a preços fixos (ligeiramente mais elevados) e de boa qualidade. Não deixes de passar pelo Ensemble Artisanal de Marrakech. Aqui podes tocar, olhar e cheirar os produtos sem necessidade de comprar.
Dicas úteis para sobreviver em Marrakech:
1. Em primeiro lugar, não te esqueças do passaporte. É imprescindível tê-lo quando planeares a viagem. Se não te lembrares de o fazer ou renovar, ficas em Portugal;
2. Leva uma caneta pois ser-te-á extremamente útil para preencher o impresso de entrada e de saída no aeroporto de Marrakech;
3. Reserva um táxi através do Hotel, Riad ou Hostel onde vais ficar hospedado ou arriscas-te a pagar bem caro (ou melhor dizendo, a ser roubado!). Se optares por negociar, não o faças por mais do que 150 Dirhams;
4. As tomadas de electricidade em Marrakech são iguais às europeias, pelo que podes ficar descansado. Poderás sempre carregar o telemóvel sem necessidade de adaptadores diferentes;
5. O mês de Abril parece ser um bom mês para ir a Marrakech. Nem está frio nem está calor. Leva roupa leve e dois pares de ténis pois rapidamente vais sujá-los de pó e de outras coisas que dificilmente conseguirás identificar. Não te esqueças de um casaco mais quente para noites mais frias;
6. Marrakech é mais liberal do que imaginamos. As senhoras andam facilmente com calções ou com saia e T-shirt ou com camisola de alças. As senhoras que gostam de andar mais desinibidas podem sempre comprar um scarf para disfarçar;
7. A zona da Medina pareceu-nos segura. Segundo os indicadores, a taxa de criminalidade é extremamente baixa. Andámos tranquilamente a tirar fotografias com os telemóveis e nunca nos sentimos inseguros em qualquer dos locais turísticos;
8.. Leva toalhetes de bebé. São essenciais para a higiene e para tudo o que não possas imaginar;
9. Não beber água da torneira e ter sempre em atenção às bebidas com gelo e aos sumos de fruta (não experimentámos, mas foi-nos dito que adicionam água);
10. É aconselhável andar sempre com dinheiro. São poucos os locais que têm terminal para cartão de débito. Próximo da Praça Jemaa el-Fna há algumas caixas multibanco.
11. Se encontrares transeuntes que, de repente, se oferecem para te guiar rejeita de imediato, pois é provável que te peçam dinheiro no fim. É certo que te vais perder pelos souks, mas relaxa e continua. Quando deres conta voltaste ao início.
12. Se não tens paciência para regatear, não o faças. Alguns vendedores ficam chateados e mandam-te para vários sítios em árabe;
13. Vais querer puxar da tua boa educação com todos os vendedores que se metem contigo e vais muitas vezes dizer “No, thanks”, “No, gracias”, “Não, obrigado”. No entanto, apercebes-te que responder é a pior estratégia. Em minha opinião, começa logo a ignorá-los.
14. Cuidado ao tirar fotografias aos populares nos locais não turísticos. Se quiseres tirar aquela foto espectacular a um comerciante ou a um artista a fazer o seu trabalho, pergunta primeiro se podes marcar aquele momento, caso contrário podes ser obrigado a apagar a foto e ainda ouvir umas reprimendas em árabe.
Parte II – A caminho do deserto do Sahara
Reservámos previamente pela internet, através do operador GetYourGuide, o passeio de Marrakech a Merzouga, com a duração de 3 dias. E que excelentes três dias.
Difícil de imaginar, fácil de viver e impossível de descrever.
Ao som de músicas dos anos 80 e 90 intercaladas com hits marroquinos, nós e mais 12 fomos conduzidos praticamente toda a viagem pelo motorista-guia Hussein. Com diversas paragens técnicas e até chegarmos ao deserto, no segundo dia, conhecemos locais fantásticos:
- A povoação Kzar Ait Ben Haddou, Património Mundial pela Unesco e que foi já cenário de filmes e séries de TV. Neste espaço ainda se consegue ver o local onde foi edificada a arena de uma das cenas do filme Gladiador;
Aït-Ben-Haddou, Ouarzazate, Marrocos - A cidade de Tinghir tem a seus pés um oásis que serve hoje também como suporte à agricultura da região. Com vista sobre estes hectares de cultivo, encontra-se edificada uma uma escola que ainda está em funcionamento. É nela que muitos alunos, em regime de retiro, estudam e rezam durante longos períodos. Na cidade de Tinghir fomos convidados a beber um chá numa casa berbere onde fazem produção e venda de tapetes;
Oásis de Tinghir, Ouarzazate, Marrocos - A passagem pelas Gargantas do Todra torna-nos tão pequeninos tal é a dimensão daquele complexo rochoso. Já foram utilizadas como cenário do filme “A Múmia” e é um local bastante turístico, com alguns souvenirs. Este é um ponto apenas de passagem para tirar algumas fotos e passear um pouco a pé;
Gargantas do Todra (Todgha Gorges), Tinghir, Marrocos - As dunas de Erg Chebbi e o cenário espectacular do deserto do Sahara foram o ponto alto de toda a viagem. É difícil descrever todas as sensações daquela aventura que durou várias horas (das 18h00 do segundo dia às 08h00 do terceiro dia). Chegámos a Erg Chebbi no meio de um tempestade de areia e, mesmo assim, iniciámos o nosso passeio de camelo em direcção ao acampamento que nos iria acolher nessa noite. O passeio até ao nosso destino durou cerca de 1h30. Devido aos fortes ventos, a recepção que estava preparada para nós acabou por acontecer no interior das tendas. E foi aí que, após uma bela tagine de galinha, permanecemos até cerca da meia noite, ouvindo e tocando música berbere na companhia dos nossos guias da região.
Os ventos continuaram a colocar à prova a resistência das nossas tendas e, até cerca das 3 da manhã, não foi fácil adormecer.Mas que importância isso tinha? Pernoitar no deserto, no meio do nada? Isso acontece quantas vezes na nossa vida?
Depois da tempestade veio a bonança e pelas 6h00 da manhã sentámo-nos nas dunas, no meio do nada, apreciando o nascer do sol que acontecia para lá do horizonte.
O silêncio do silêncio e um vasto mar de cores inundaram aquele deserto, muitas vezes caracterizado como um lugar sem vida, sem emoção e sem sentimento.
Desenganem-se, meus amigos…
O deserto é dos cenários mais impressionantes que existe. Ele tem a mesma força que o mar, a mesma imponência que a montanha, a mesma leveza que o prado, o calor da savana e uma mistura de tantas cores como um jardim de flores.
Dicas úteis para sobreviver no tour do deserto com dormida no acampamento:
1. Leva toalhetes de bebé para higiene. No acampamento não há local para tomar banho e as condições para higiene são limitadas;
2. Compra previamente um scarf para protecção do rosto e/ou da cabeça;
3. Leva óculos de sol para protecção dos olhos em caso de tempestade de areia;
4. Leva um casaco mais quente pois as noites no deserto podem surpreender;
5. Usa calças para o passeio de camelo. Para além de serem uma boa protecção no contacto com o animal, protegem as pernas de algum possível escaldão e também de eventual tempestade de areia;
6. Procura pelo camelo Ialu. O meu camelo foi o mais espectacular de todos.
7. Leva uma mochila apenas com o essencial. Não te esqueças de levar lá dentro, pelo menos, uma garrafa de água de 1,5L, uma vez que, no acampamento apenas existe água para higiene básica.
Esta foi uma viagem de contrastes: do barulho ao silêncio; da beleza à ruína; da riqueza à simplicidade; do grande ao pequeno; do monocromático ao policromático. Uma viagem inesquecível.